Congregação das Irmãs Franciscanas Penitentes Recoletinas de Oirschot

FUNDADORA

“Jamais encontrei sofrimento na vida religiosa, o amor transforma tudo em rosas perfumadas.”

Madre Joana de Jesus

Perfil de Madre Joana de Jesus

CONTEXTO EM QUE NASCEU E VIVEU JOANA DE NEERINCK

O período em que viveu Madre Joana foi de muita turbulência com várias transformações sociais e religiosas.

Aspecto Social e Político

Em relação ao aspecto social e político, ressaltamos as guerras e revoluções e a desigualdade social, com uma divisão abusiva de classe. Grande barreira entre ricos e pobres. Poucos com muito e a maioria na miséria. Como consequência, houve revoltas de camponeses e perda de emprego pelos operários.

Aspecto Eclesial

Madre Joana viveu na Idade Média, época de grande turbulência na Igreja, que sofreu várias mudanças e contestações. Em consequência à inquisição, eram levados para a fogueira aqueles que se opunham à posição da Igreja. A Igreja era dividida em duas sedes: Roma e França; sofria forte influência de Lutero com o protestantismo e muita perseguição dos Calvinistas: quebravam imagens, saqueavam os conventos, etc.

A Igreja católica orientava os fiéis à busca da salvação, da ascese e da mística. O caminho indicado para a salvação eram os sacramentos, retiros e exercícios espirituais. A vida Religiosa era vista como modelo de perfeição e a ênfase era dada ao estilo contemplativo. Os conventos e os mosteiros eram formas para se separar do mundo, uma busca de salvação individual. Dentro da busca de perfeição, sobressaíam os movimentos laicos como: fraternidade do divino amor, devoção moderna, o movimento dos recoletos franciscanos e vários outros movimentos ligados ou não a espiritualidade franciscana. A observância da clausura era obrigatória para a vida religiosa feminina. Dentro desse contexto, Madre Joana absorve e assume as orientações do Concílio de Trento que, por sua vez, também sofre individualmente influência externa a devoção moderna e do humanismo. Esta influência se dá pelo estilo de vida eminentemente contemplativo que busca de todo coração. A clausura era considerada um tesouro, um jardim secreto, evitando todo contato com o mundo, uma busca de perfeição, de esvaziamento e de mortificação. Madre Joana sofre influência também do movimento franciscano, sobretudo dos recoletos, que enfocavam a volta às fontes, para recuperar a vida conventual. Sofre influência de Santa Clara (ternura, compreensão, sensibilidade, valorização dos seres humanos, da vida comunitária e ênfase à pobreza). Outra influência foi de São Francisco de Sales, seu contemporâneo, que salientava a necessidade da evangelização capaz de transformar o ser humano.

Por outro lado, pela convicção da sua vocação e seguimento de Jesus Cristo, Madre Joana também exerceu grande influência na Igreja de sua época, reformando vários conventos.

Dentro desse contexto sociopolítico e religioso, nasce e cresce a fundadora das Penitentes Recoletinas, denominada Madre Joana de Jesus.

Podemos caracterizar Madre Joana em diferentes fases da sua vida: criança, jovem, adulta e também sua morte e ressaltar nessas fases suas virtudes, seus dons e suas decisões.

Madre Joana criança

Nasceu em 03 de agosto de 1576 em Gand na Bélgica. Desde criança, sentia-se tocada pelo grande amor de Jesus à humanidade, a ponto de Ele entregar sua própria vida para salvá-los. Por isso, desde cedo, ela também queria sofrer com Jesus, impondo a si mesma pequenos sacrifícios e renúncias, como o de procurar gostar daquilo de que não gostava, sofrer com os que sofriam, doar para os pobres os presentes e guloseimas que lhe eram oferecidos. Com muito desejo, esperou até os dez anos para fazer a primeira eucaristia, idade mínima permitida naquela época. Nesse dia tão esperado, ela fez uma festinha para as crianças pobres. No meio dos meninos estava um menino diferente que era o próprio Jesus que a pediu que lhe escolhesse por esposo. Na sua infância, sobretudo na convivência com os pais e frequência à Igreja, sobressaem as seguintes características:

  • Devoção a Jesus salvador;
  • Conversão do coração através de pequenas renúncias;
  • Amor à eucaristia (partilha e solidariedade);
  • Frequência aos sacramentos (gostava de rezar e ir à igreja com sua mãe);
  • Solidariedade com os pobres.

Família

Pai Sr. Neerinck era recebedor geral da cidade de Gand. Homem honesto, muito católico.

Mãe: Piedosa e de grande fé. Sua mãe falava-lhe sobre o nascimento de Jesus, sua vida de privações e da Paixão e sobre a Santa Virgem Maria. Joana tinha apenas um irmão.

Madre Joana jovem

Vivendo intensamente os exercícios de piedade, propostos pela Igreja, direciona tudo isso a Jesus Cristo na tentativa de responder o seu grande amor pela humanidade. Destacamos nessa fase da sua vida as seguintes descobertas, virtudes e sonho:

  • Vocação de ser religiosa;
  • Cuidado de quem precisava, inclusive do seu irmão;
  • Tornou-se uma providência para os infelizes;
  • Trouxe de volta à Igreja aqueles que perderam a fé durante o domínio calvinista;
  • Atração pela vida contemplativa;
  • Renúncias e abnegação de si mesma;
  • Deus como absoluto de sua vida;
  • Determinação e administração dos conflitos;
  • Pessoa orante;
  • Atenta aos sinais e inspirações do Espírito Santo;
  • Vê São Francisco como modelo de vida.

Madre Joana adulta

Joana de Neerinck concretiza o seu sonho de vida Consagrada entrando para as irmãs Cinzentas e, posteriormente, fundando a Congregação das Franciscanas Penitentes Recoletinas e reformando vários conventos de acordo com as exigências da Igreja de sua época. Nesta sua caminhada, em que concretiza a sua paixão por Jesus, encontramos uma mulher:

  • Empreendedora (fundou uma nova Congregação e reformou outros conventos);
  • Esposa fiel de Cristo;
  • Contemplativa;
  • Verdadeira;
  • Humana;
  • Vigilante;
  • Prudente;
  • Amante do bem;
  • Apaixonada por Jesus Cristo;
  • Misericordiosa;

 

As virtudes que modelaram a vida de Madre Joana foram consequências da sua paixão por Jesus Cristo casto, pobre e obediente. Nada nesse mundo ocupou o seu coração mesmo que exigisse dela grandes renúncias ou sacrifícios. Era sempre uma prova de amor que a levava a identificar-se com o Cristo do presépio, eucarístico e crucificado. Daí uma vivência contínua dos valores, na paixão pelo reino, no exercício missionário, na conversão contínua, na contemplação e oração, no exercício da misericórdia e compaixão, na busca da verdade e da vigilância, na entrega alegre e disponível em resposta ao chamado. Vivendo essa entrega com ternura e delicadeza, na escuta atenta às necessidades do outro. Não será possível mensurar totalmente sua paixão por Jesus, expressa nos valores ou virtudes que viveu. Cabe a nós vivermos esse grande testamento que ela deixou para as suas filhas e partilharmos com o mundo essa riqueza através da nossa vivência missionária.

MORTE DE MADRE JOANA

Em 1648, aos 72 anos de idade, agravou o estado de saúde de Madre Joana. A fraqueza tornava-se extrema, não conseguia mais se alimentar e a Eucaristia era seu único sustento. De seu leito, continuava a governar a comunidade, recebendo as Irmãs e velando sobre tudo. Não precisava, aliás, de estar presente para ver e ouvir: Jesus continuava a falar-lhe ao ouvido para ajudá-la.

O doutor que a acompanhava não deixara esperança de cura. Desde que a notícia se espalhou, deu-se um desfile de visitantes pedindo para vê-la ainda mais uma vez.

Recolhida no mais íntimo de si mesma, estava, mais do que nunca, indizivelmente unida a Deus. Suas filhas só se aproximavam de seu leito de joelhos, ela as escutava como antes, com a mesma atenção, lucidez e bondade.

Às vésperas de sua morte, Madre Joana recebeu a Comunhão e desde então permaneceu todo o dia e a noite em êxtase. Na manhã do dia seguinte, 26 de agosto de 1648, ela sentiu que sua hora chegara e pediu os últimos sacramentos. Ela sofria atrozmente, porém, o sorriso não deixava seus lábios. Recebeu a Unção dos Enfermos e a última Comunhão com o Bem-amado antes do encontro face-a-face. De repente, perguntou as horas. “Nove horas”, disse a Irmã que cuidava dela. ­­― “Bem, ajude-me então a levantar”.  Não queria morrer no leito, quando Jesus morrera numa cruz. “Minhas filhas, chegou a hora, hora de ver o meu Amado, é hora de pôr-me a caminho”. Quando assentaram-na à cama, ela rezou uma última vez pelas filhas e pela Ordem. Em seguida, começou a agonia. Cerca do meio-dia, Madre Joana inclinou a cabeça.

Foi grande a afluência de pessoas no Convento. Madre Joana assumira uma expressão de serenidade celeste. Após as exéquias solenes, ela foi sepultada no claustro do Convento.